Vinte anos atrás o destino dos brasileiros na América do Sul ou era a Argentina do tango ou os cassinos do Uruguay. Conheci o Chile quase que por acaso. Durante as férias da faculdade um amigo chileno me convidou para visitar os avós dele, e topei sem pensar duas vezes. Foram 50 horas em um ônibus de Curitiba até Santiago. Mochilamos por um mês, me apaixonei pelo país e para lá voltei várias vezes. Nessa última, decidi
levar toda a família.
 
Alguns dias antes do embarque estávamos muito ansiosos porque o vulcão Puyehue acordou e suas cinzas estavam fechando os aeroportos quase todos os dias. Mas por sorte, uma dia antes da viagem os voos foram liberados e embarcamos sem problemas.
 
Como era inverno, eu e minha esposa Walkíria escolhemos ir para o Norte, até a cidade de La Serena. As crianças
eram pequenas e o clima seria um pouco mais ameno. Na época Daniel estava com 5 anos e Bianca com 2.
 
Chegando em Santiago, fomos para o bairro de Providência, onde havia feito uma reserva no Meridiano Sur. O hotel era pequeno, mas muito confortável, e de muito bom gosto na decoração. Além disso, podíamos usar a pequena cozinha durante a noite para fazer a mamadeira e a comida da Bianca.
 
Providência fica na área nobre de Santiago, é tranquilo e seguro para se passear, mesmo de noite. A cidade é plana e as calçadas são boas.Para longas caminhadas o ideal é levar as crianças pequenas em carrinhos tipo guarda-chuva.
 

Valle Nevado – cuidado com o ar rarefeito 

No dia seguinte pegamos uma excursão para o Valle Nevado, uma das grandes estações de esquí perto da capital. A ideia não era esquiar, mas apenas mostrar a neve para as crianças. Para ir até lá contratei um passeio com a agência Turistour, e custou mais ou menos uns 120 reais (29 mil pesos) por adulto e 80 reais por criança para o dia todo. A van chegou cedo e fomos subindo a cordilheira. Como era final de junho, chegando lá tinha pouca neve. Mas era o suficiente  para a gente se divertir.  Colocamos casaco e cachecol nas crianças e começamos a correr pelo morro. Como tem pouco ar lá em cima dá pra sentir que a gente cansa mais fácil. A Bianca e o Daniel acharam um boneco de neve “semi-pronto” e trabalharam mais um pouco nele, fizeram boca, olhos e nariz. Depois colocaram um cachecol pra ficar bem na foto. 

Os dois se divertiram bastante jogando neve na gente. Daniel ficava impressionado como pedaços grandes de gelo podiam ser tão leves. Depois da correria tivemos um pequeno contratempo: Daniel começou a fica enjoado e vomitou. Foi muita bagunça para pouco ar nos pulmões. Fomos para o restaurante do hotel, descansamos um pouco ao lado da lareira, comemos umas batatas com preços exorbitantes, e logo ele estava bem. No final do passeio fomos brindados pelo rasante de um condor sobre a nossa van.
 

Ruta 5 – boa estrada, banheiros limpos

 

 
No dia seguinte fui buscar o carro em uma locadora que ficava perto do hotel. Pra não ter trabalho já havia incluído as cadeirinhas e um GPS no aluguel. O bom de se viajar pelo Chile é que não tem como ficar perdido. A Ruta 5 corta todo o país, de norte a sul, de um lado a presença constante dos Andes e do outro o Oceano Pacífico. O GPS usei somente para dirigir dentro de Santiago.

Para os pais que querem pegar a estrada com seus filhotes, digo que as estradas lá são pedagiadas e estão sempre em ótimo estado de conservação. Além disso, os postos de combustíveis são novos e geralmente possuem lojas de conveniência e banheiros pagos e limpos. E como nessa época a Bianca ainda estava deixando as fraldas, banheiros limpos era uma de nossas preocupações.

 

Los Vilos – serenidade do Pacífico

 
Ao deixar Santiago, pela Ruta 5, a paisagem começa a perder o verde. E uns 100 quilômentros depois o deserto é
predominante. Passamos por algumas turbinas de vento, e nossa primeira parada foi em Los Vilos, um pequeno vilarejo de pescadores. Aproveitamos para comer peixes frescos com fritas em um pequeno restaurante, e fomos passear no trapiche da cidade. Era final da tarde e por ali alguns senhores pescavam, naquela mansidão de cidade do interior. Ficamos por ali por alguns minutos apreciando o pôs-do-sol, quando Daniel chamou nossa atenção dizendo que tinha visto algo na água. Corremos até lá, mas já havia sumido. Perguntei o que era, mas ele não sabia. Disse que parecia uma foca, com bigode e tal.
Nos hospedamos em um pequeno hotel, muito simples, com uma decoração remanescente dos ano 70. Compramos o nosso jantar no mercado, e levamos para o quarto. Um aquecedor antigo nos ajudou a passar a noite.

 

La Serena – só o farol

Na manhã seguinte partimos para La Serena. A cidade era mais movimentada que eu esperava, trânsito ruim e
muitas obras no centro histórico. Era baixa-temporada, as praias estavam vazias. Passeamos pela avenida beira-mar e jantamos em um restaurante perto do Farol Monumental, que é o principal ponto turístico da cidade. Nos hospedamos em um hotel 3 estrelas chamado Costa Real, que pelo que pesquisei, tinha um bom
custo-benefício.
 

Vicuña – céu estrelado

A partir de La Serena, em direção aos Andes, fica a pequena cidade de Vicuña. A região é famosa pela produção do pisco, um destilado de uva que é orgulho nacional. Ali é possível visitar várias pisquerias. Mas esse não era o nosso objetivo.
 
O Norte do Chile, por ser uma região muito seca, é muito propício para ver as estrelas. E Vicuña em cerca de
300 noites de céu aberto por ano.
 
Lá contratamos um passeio para o observatório de Mamalluca, que fica a 9km da cidade, subindo as montanhas. Fui dirigindo o meu carro, seguindo as vans das agências de turismo. O observatório é um local bem estruturado para receber turistas, com salas de projeção para dar uma breve explicação do que vai ser visto, e tem até lojinha. O céu estava muito limpo naquela noite, e o nosso astrônomo-guia usava uma caneta laser para apontar para as estrelas. Fomos até o telescópio e o Daniel ficou impressionado ao ver as crateras da lua e até os anéis de Saturno. Já a Bianca teve dificuldades em manter apenas um olho aberto no visor do telescópio.

Passamos a noite em um lugar muito simpático chamado Hostería Vicunã. No dia seguinte passeamos pela praça central da cidade, e as crianças adoraram dirigir os carrinhos elétricos alugados. Na verdade, essa diversão nada convencional talvez tenha sido o ponto alto da viagem, pois era domingo, fazia um belo dia de sol e  pudemos nos divertir com as crianças, com a Cordilheira imponente ao fundo.

 

Ovalle – pequeno terremoto

Na volta para Santiago, ainda visitamos o Bosque Fray Jorge, um parque nacional que guarda muitas espécies típicas da região, com uma linda vista para o Pacífico.
 
E na cidade de Ovalle, nos hospedamos e um hotel chamado Limarí. Um hotel novo com poucos quartos, mas com serviço impecável, e bela arquitetura. Nos fundos havia uma linda piscina e um balanço, onde as crianças passaram boa parte da tarde brincando enquanto uma lhama pastava ao lado.O único problema é que acordamos com um tremor durante a noite, e passei o resto da madrugada pensando em uma rota de fuga caso o terremoto ficasse mais forte. Mas de manhã estava tudo bem, um funcionário me disse que isso era muito comum na região.

 

Voltamos para Santiago, e o vulcão Puyehue continuava dando uma trégua sem lançar cinzas, e pudemos pegar
nosso voo sem problemas.
¡Hasta pronto, Chile!
 

Jorge Uesu Junior é diretor de arte
e autor da página Daniel e Bianca no Facebook.
 
 
 

3 COMENTÁRIOS

  1. Olá, boa tarde! Você foram no inverno? Vou agora com meu marido e meu filho de 2 anos e estou um pouco preocupada com o frio. Você aconselha algo? beijos, Keila Vasconcelos – Recife – PE

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here